Inclusão profissional nº 11/2020 – 18/03/2020
Pesquisa mostra que 52% de profissionais com deficiência estão procurando emprego
A Câmara Paulista para Inclusão da Pessoa com Deficiência no Mercado de Trabalho Formal realizou a primeira plenária de 2020, no Auditório da Superintendência Regional do Trabalho de São Paulo.
No encontro, realizado no dia 11 de março, foram abordados temas relacionados com o Índice de Funcionalidade Brasileiro Modificado (IFBrM), e também foram apresentados os resultados de uma pesquisa realizada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) e o IBOPE sobre a empregabilidade das pessoas com deficiência.
A abertura da reunião plenária foi feita pelo auditor- fiscal, médico do trabalho e coordenador da Câmara Paulista de Inclusão, José Carlos do Carmo, Kal, e pelo superintendente Regional do Trabalho em São Paulo, Marco Antonio Melchior, e pelo chefe da auditoria, Antonio Fojo.
Os dados da pesquisa foram compilados com o objetivo de constituir uma ferramenta de apoio no planejamento de ações pelo fomento da inclusão de profissionais com deficiência.
As entrevistas foram feitas entre julho e setembro de 2019 no município de São Paulo e na Região Metropolitana, com uma amostra de 510 pessoas por meio de seleção aleatória com abordagem pessoal na saída de eventos e em instituições que realizam atendimentos a pessoas com deficiência. O objetivo, segundo a procuradora Elisiane dos Santos, foi identificar a relação das pessoas com deficiência com o mercado de trabalho, suas dificuldades e anseios, fazendo análise do perfil das pessoas com deficiência que buscam colocação no mercado de trabalho e também das que estão empregadas, a fim de orientar ações e estratégias eficientes de inclusão da população no mercado de trabalho.
A pesquisa mostrou que o trabalho desperta sentimentos positivos nos entrevistados. Quando levados a pensar espontaneamente sobre o assunto, as palavras Alegria, Independência, Dignidade foram as mais lembradas. Quando perguntados sobre oportunidade de emprego, os entrevistados avaliam que o Plano de Carreira é o aspecto mais importante (18%), seguido de vagas compatíveis com o perfil (14%).
Mais da metade dos entrevistados, 52%, estavam desempregados e entre os que trabalhavam, a maioria, 62%, ocupava cargo operacional. Mais da metade dos entrevistados empregados trabalham no comércio (54%), em atividade social (19%) e em empresas de prestação de serviços (15%). Entre esses, quase dois terços afirmam que no seu local de trabalho não foram feitas adaptações específicas para recebê-los.
A pesquisa também mostrou que cerca de 4 em cada 10 entrevistados atuam há pouco tempo –até seis meses –na empresa onde trabalham ou por conta própria. Somente 4 atuavam há mais de 15 anos na mesma empresa/instituição ou por conta própria.
A questão salarial também foi outro ponto abordado. Considerando o emprego atual, a maioria afirma que não teve seu trabalho reconhecido, 77% não receberam promoção, 68% não receberam capacitação (cursos) pela empresa e metade acredita que o salário que recebe é um pouco adequado.
“O estudo revela que a maioria dos entrevistados percebe na empregabilidade um meio de garantir dignidade (76%), o que é contrário ao discurso de que pessoas com deficiência não querem trabalhar, que preferem o benefício. É uma falácia”, diz Elisiane. A política de cotas e o apoio da família são dois pontos que também aparecem na pesquisa. “Nas empresas, é muito comum o argumento de que a família não quer que a pessoa com deficiência trabalhe, quando, na verdade, a maioria das famílias dos entrevistados, segundo eles, incentiva o trabalho (79%). Sobre as cotas, a maior parte dos entrevistados considera que essa política transformou positivamente as suas vidas (89%)”, relata a procuradora.
Para a coordenadora do grupo de inclusão profissional do SINICESP, Caroline Melloni do Nascimento Cliber, a pesquisa é importante pois traz um panorama da percepção de um grupo de pessoas com deficiência que já estão inseridas no mercado de trabalho ou que pretendem obter uma oportunidade para se desenvolverem profissionalmente e serem cidadãos ativos e independentes na economia.
Sobre o IFBr
O Índice de Funcionalidade Brasileiro (IFBr) é baseado na Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF) e na Medida de Independência Funcional (MIF). O palestrante convidado, Dr. Heleno Rodrigues Corrêa Filho, da Universidade de Brasília, falou sobre os rumos para a validação do Índice como modelo unificado de avaliação da deficiência no País.
Heleno explicou que o IFBrM (M de “modificado”) avalia a gravidade da deficiência em um indivíduo a partir do modelo biopsicossocial, que leva em conta não apenas a visão médica, mas o nível de independência da pessoa avaliada e o meio social no qual ela está inserida. Na sua 124ª Reunião Ordinária, realizada de 2 a 4 de março, o Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (CONADE) aprovou o Índice como instrumento de avaliação nacional da deficiência. Para que o IFBr entre em vigor, portanto, basta a determinação do governo federal.
Fonte: Ministério Público do Trabalho