Inclusão profissional nº 30/2020 – 27/07/2020

SÃO PAULO INCLUSIVA: MISSÃO POSSÍVEL?

Os desafios da metrópole pela mobilidade e acessibilidade total

SÃO PAULO – Considerada o centro econômico brasileiro, a capital do Estado de São Paulo soma quase 12 milhões de habitantes, dos quais 810 mil são munícipes com alguma deficiência. O desafio da inclusão vai da mobilidade urbana aos recursos de acessibilidade, que garantirão o pleno exercício da cidadania, da infância à velhice para as pessoas com deficiência.

Para conhecer melhor o perfil do paulistano com deficiência, foi lançado recentemente, pela prefeitura municipal, o “Observatório Municipal da Pessoa com Deficiência”, numa parceria da Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPED). Com os dados e respectivas análises em mãos será possível viabilizar políticas e fazer cumprir os direitos da população com deficiência. A cidade mantém, ainda, um Conselho Municipal da Pessoa com Deficiência ativo, que expande o diálogo, que é revertido em propostas.

O QUARENTENA NEWS conversou com a Secretária-Adjunta da SMPED, Marinalva Cruz (foto), para entender o tamanho do problema – ou da solução – para garantir a plenitude da diversidade na cidade que é referência para os demais municípios brasileiros

QN – Como gestora pública e pessoa com deficiência, em sua opinião, qual é o maior desafio para uma metrópole como São Paulo tornar-se uma cidade inclusiva?

MARINALVA CRUZ – A cidade de São Paulo tem avançado bastante na área da acessibilidade e inclusão, especialmente pelo trabalho transversal, desenvolvido pela Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência (SMPED), a primeira criada no Brasil, em 2005. Temos como missão promover o protagonismo da pessoa com deficiência e sua efetiva participação na sociedade.

Apesar dos avanços em diferentes áreas, ainda há um caminho longo pela frente e para se tornar mais acessível. O maior desafio é tornar a acessibilidade e a diversidade humana prioridade em todos os projetos, garantir que toda e qualquer política pública considere também as pessoas com deficiência. Isso, tendo em vista que antes da deficiência existe um ser humano que pode ser uma criança, um jovem, um adulto, uma pessoa idosa, uma mulher. Um cliente, e com certeza um consumidor de todos os bens, produtos e serviços existentes na cidade.

QN – A SMPED é inovadora em relação ao uso das ferramentas digitais, facilitando a comunicação com a população. Quais as mais inclusivas? Vocês têm alcançado os objetivos? Podemos dizer que a pessoa com deficiência se sente representada pelo poder público em SP?

MC – De fato, a Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência – SPMED tem avançado bastante na área digital e comunicacional e se tornado referência para outros países. Entre as ações mais inclusivas destaco as ações na área da informação, comunicação e cultura:

Todos os sites da prefeitura são acessíveis e certificados pelo Selo de Acessibilidade Digital. Temos ainda o serviço gratuito da Central de intermediação em Libras – Língua Brasileira de Sinais – permitindo que pessoas surdas ou com deficiência auditiva tenham acessibilidade em quaisquer serviços públicos instalados na cidade de São Paulo. Ele funciona 24h por dia, utilizado pelo celular, sem consumir os dados móveis do usuário.

Através do Programa Cultura Inclusiva, promovemos a acessibilidade comunicacional em teatros e equipamentos municipais de cultura. Já o Festival Sem Barreiras, desenvolvido em parceria com a Secretaria Municipal de Cultura, tem como objetivo divulgar o trabalho realizado pelos artistas com deficiência, trazendo reconhecimento e visibilidade. O Festival, que integra as festividades do 29o Aniversário da Lei de Cotas, no dia 24 de junho, foi o vencedor do Prêmio Estado de São Paulo para as Artes 2019, na categoria Inclusão, Diversidade e Acesso à Cultura.

Mas, mesmo com os avanços obtidos, ainda há um longo percurso e muitos desafios. Por esta razão, acredito que as pessoas com deficiência só estarão plenamente representadas pelo poder público, quando houve igualdade de oportunidades com equidade.

QN – Como você analisa o preconceito da sociedade em geral contra a pessoa com deficiência? Qual é o papel da Pessoa com Deficiência para revertê-lo e tomar para si o poder de fala e protagonismo?

MC- O preconceito é fruto do desconhecimento, da falta de convivência com a realidade das pessoas com deficiência, consequência da nossa cultura. A sociedade ainda enxerga a pessoa com deficiência como “coitadinho” ou “super -herói” e quase sempre esquece que é um ser humano como outro qualquer, com direitos, deveres, habilidades, competências e muitas características, sendo a deficiência uma delas.

Para reverter o preconceito é necessário mudar o olhar, as atitudes, investir em educação, em acessibilidade e em tecnologia assistiva. Só assim as pessoas com deficiência poderão sair de casa, se fazerem presentes nos mais diversos espaços e consequentemente se tornarem protagonistas das suas vidas.

É fundamental criar condições para garantir a participação das pessoas com deficiência em diferentes áreas, atentar para a importância da interseccionalidade e a necessidade do olhar e ações transversais, no setor público e privado.

Reconhecimento internacional

Marinalva Cruz representou as cidades do Brasil e levou a experiência paulistana nos Estados Unidos, em 2019, durante o World Enabled – evento direcionado a políticas públicas voltadas para Pessoas com Deficiência, que reuniu 160 países.

Fonte: Adriana do Amaral – Correspondente Quarentena News