Inclusão profissional nº 22 (20/09/2024)

Vitórias e desafios em mais um 21 de setembro – Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência

Protagonismo avança e olhar sobre a interseccionalidade evidencia discriminações sobrepostas 

Nos Jogos Paralímpicos de 2024, o Brasil fez sua melhor campanha na história! Conquistou o maior número de medalhas (89), sendo 25 de ouro, 26 de prata e 38 de bronze, o que rendeu a inédita 5ª posição no megaevento (China em primeiro lugar, seguida de Grã-Bretanha, EUA e Holanda). O resultado superou as 72 medalhas obtidas em Tóquio 2020 e do Rio 2016. Também bateu o recorde de medalhas de ouro, com 25, contra as 22 douradas de Tóquio 2020.

Comemorar vitórias como esta é maravilhoso, especialmente nessa semana em que acontecem muitos eventos de conscientização sobre a inclusão, e as pessoas com deficiência protagonizam no lugar de competência e alto rendimento, uma evidência inquestionável de que quando tem acessibilidade, oportunidade e estímulo, as pessoas desempenham o seu melhor, tendo ou não uma deficiência. Porém, é preciso sempre lembrar que o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência é também um momento importante de luta pela real, efetiva e urgente implementação (na prática) dos Direitos Humanos que as pessoas com deficiência já possuem, há décadas, em robustas leis internacionais e nacionais, e que nem sempre, ou somente depois de muita luta, são colocadas em prática. 

Interseccionalidade

Segundo os dados de IBGE (2022), quando consideramos as questões das interseccionalidades dentro de uma concepção  da estatística, nota-se que os grupos conhecidos popularmente como “minorias” são na realidade a maioria estatística no que se refere às intersecções. Um demonstrativo disso é que 56% da população é composta de pessoas pretas; 51% são mulheres; 9%, pessoas com deficiência; 10% se identificam como LGBTQIA+; 0,4% da população são indígenas.

E para garantir que as oportunidades sejam as mesmas para todas as pessoas com deficiência de forma a priorizar a completa equidade, todas as interseccionalidades necessitam ser levadas em conta na aprovação de políticas públicas, principalmente no mercado de trabalho.  Afinal, suas vivências são moldadas pela interação de diversos fatores sociais, como raça, gênero, classe social e orientação sexual. Isso significa que uma mulher negra com deficiência, por exemplo, enfrenta desafios específicos que se originam da interseção de múltiplas formas de opressão, como racismo, sexismo, LGBTfobia, etarismo e capacitismo.

A interseccionalidade de identidades, como raça, deficiência e orientação sexual também cria experiências únicas de discriminação e exclusão. Pessoas negras com deficiência e membros da comunidade LGBTQIAP+ com deficiência são duplamente ou triplamente marginalizadas, enfrentando barreiras tanto por sua raça/etnia quanto por suas deficiências. Essas barreiras se intensificam quando se combinam, dificultando ainda mais o acesso e a permanência no mercado de trabalho de forma segura, respeitosa e livre de discriminações. Para isso, é fundamental que as empresas reconheçam a existência de todas as interseccionalidades ao implementar medidas específicas para promover a efetiva inclusão destas pessoas com deficiência, garantindo ambientes de trabalho mais justos e equitativos. Foi que esse objetivo que nasceu o Instituto Vidas Negras com Deficiência Importam @vndi.brasil que é uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos atua em três eixos de trabalho, juntamente em parceria com empresas privadas e organizações nacionais e internacionais que façam o debate de dupla discriminação e a formação de lideranças na comunidade para pensar em uma abordagem intersserccional entre raça e deficiência.

Em artigo publicado na Revista Brasileira de Políticas Públicas: DisCrit:“Os limites da interseccionalidade para pensar sobre a pessoa negra com deficiência”, Philippe Oliveira de Almeida declara: “Como pessoa negra com deficiência, sinto na pele os impactos da interseccionalidade. A cada dia, enfrento barreiras e discriminações que se multiplicam por conta da combinação de minha raça e deficiência. A sociedade, muitas vezes, não está preparada para lidar com a complexidade de nossas identidades, o que nos torna ainda mais invisíveis e vulneráveis. A interseccionalidade não é apenas um conceito teórico, mas uma realidade que molda nossas vidas e limita nossas oportunidades. É fundamental que as políticas públicas e as ações da sociedade como um todo reconheçam e valorizem a diversidade, combatendo todas as formas de discriminação e trabalhando por um mundo mais justo e inclusivo para todos.”

A iniciativa Vale PcD @valepcd surgiu a partir da inquietação de não existir um coletivo que falasse sobre a interseccionalidade das pessoas com deficiência que são LGBTQIA+, além de não ser um assunto levado em consideração dentro da comunidade. Sobre as experiências no mercado de trabalho, Wanderley Montanholi, vice-presidente da Vale PcD comenta: “Experimentei a exclusão em diversos ambientes. No trabalho formal, me sentia invisibilizado como pessoa LGBTQIA+ e com deficiência. As piadas constantes sobre minha deficiência física e a falta de empatia dos colegas criavam um ambiente hostil. Na arte, a invisibilidade é outra questão. Como ator com deficiência oculta, não me encaixo em nenhum dos estereótipos, sendo excluído de ambos os lados. A dor crônica, muitas vezes invisibilizada, é mais um desafio que enfrento”.

Fontes de pesquisa sobre o tema:

https://www.publicacoes.uniceub.br/RBPP/article/view/6861
https://www.revistas.usp.br/organicom/article/view/207522
https://capital.sp.gov.br/web/pessoa_com_deficiencia/w/noticias/312288
https://www.instagram.com/vndi.brasil/
https://www.valepcd.com.br/
https://www.instagram.com/coletivohelenkeller?igsh=YjJqcGNhbjh3a2Rm
 
Por Sergio Gomes para o site da Câmara Paulista de Inclusão da Pessoa com Deficiência